O SONHO DO ARTISTA

“SONHAR COM AS ESTRELAS É O PRIMEIRO PASSO PARA SE TORNAR UMA DELAS”

QUERO NAVEGAR

NESTE MAR DE ESTRELAS

QUE DANÇAM

COMO BAILARINAS NA CORDA BAMBA

COREOGRAFANDO UM ESPETÁCULO DE LUZ.

PUXE A ÂNCORA

CHEGOU A HORA.

SUBMERSO EM MIM,

ESTOU PRONTO PARA SUBIR,

FAZER PARTE DA TRIPULAÇÃO DOS ASTROS,

COMANDAR OS MASTROS

DESTE NAVIO ESTRELAR

NÃO QUERO SER A ESTRELA ALFA,

NEM MESMO A MAIS ALTA.

NÃO QUERO SER PIRATA,

LADRÃO DE ESTRELAS,

NEM MESMO MAGNATA.

SÓ QUERO FAZER PARTE

DA TRIPULAÇÃO DOS ASTROS.

PARTICIPAR DO SHOW CÓSMICO

BRILHAR, BRILHAR, BRILHAR...

.

 

Fertilizando a minha alma artística

Engravidei meu coração

Com a emoção de parir

A mais rica melodia.

A quem insista como eu

Neste desejo de ser alpinista

Escalando o anseio de ser um artista.

Difícil escalada

Difícil o desafio

 De chegar ao topo de meu ser.

GRITO DE INDEPENDÊNCIA

“IMPOSSÍVEL SEPARAR ANTES DE CONQUISTAR TERRITÓRIO PRÓPRIO”

  

QUANDO ME PARISTE

ABORTOU-ME

ENGRAVIDANDO MEU SER

COM SEUS EGOÍSTICOS DESEJOS.

O AR QUE RESPIREI

OXIGENAVA SUAS EXPECTATIVAS

E A ANOXIA DE MINHA IDENTIDADE

PARALISOU O MEU SER.

EU QUE NÃO SABIA

CAMINHAR SOZINHO,

APRENDI A CAMINHAR

COM SUAS PERNAS.

AMPUTADO DE MIM,

PUDE PERCEBER,

TARDIAMENTE,

QUE NASCI MORTO.

ENFORCADO POR CORDÕES

QUE NÃO FORAM CORTADOS,

VIVI SIMBIOSE,

MENOS VIDA.

QUISERA TER SOFRIDO

A DOR DA SEPARAÇÃO,

NO ENTANTO, SOFRI

A FUSÃO DE SEU VAZIO.

QUERENDO SE PREENCHER DE MIM,

ESVAZIOU-ME,

NEGANDO-ME O SONHO

DE ACORDAR SOZINHO.

SEPARA-TE DE MIM,

SEPARA-ME DE TI,

SÊ PARA TI,

SÊ PARA AÇÃO.

AÇÃO DE PARTEIRA,

SEM A ANESTESIA

QUE POUPOU-ME SENTIR

O QUE SOU.

CONCEDA-ME UM PARTO,

PARTO NORMAL,

PARTO DE TI,

PARA QUE EU POSSA,

FINALMENTE,

PARIR-ME,

LIBERTANDO-ME

DOS CORDÕES

QUE FAZEM DE MIM

SUA MARIONETE.

Não basta apenas

Dar o grito de independência

É preciso ter coragem

De seguir em frente

Com as próprias pernas

E tornar-se dono dos riscos

Que antes eram do outro.

Difícil a sina

De apoderar-se de si mesmo.

ADOLESCÊNCIA

“NENHUM DESEJO É TÃO PROIBIDO QUANTO O DESEJO DE TOCAR  SI MESMO”

NA TORRE DE MINH’ALMA

SOOU ABSTRATA

A INTOCÁVEL MELODIA.

APENAS SENTINDO

A SUA MISTERIOSA PRESENÇA

OUSEI-ME BULI-LA

DESLIZANDO MEUS DEDOS

EM SUAS LONGAS TRANÇAS

QUE ME ENLAÇANDO,

ERGUERAM-ME.

DILATEI-ME

AO OUVIR COM A ALMA

A MINHA PRÓPRIA TOADA.

RAPUNZEL!

MEU DESEJO PROIBIDO!

NO ÁTIMO DE MEU PRAZER

CORTARAM O MEU DELEITE

FERINDO-ME E CEGANDO MEUS OLHOS,

NEGANDO-ME A VISÃO DE TUA PARTITURA.

 

RAPUNZEL!

ONDE ESTÁS!

TRANÇO PELO MUNDO

A PROCURA DE TI

DOÍDO, CONTINUO

TRANÇANDO E TRAÇANDO O MEU TRAJETO

PRESO A ESTE CORDÃO INVISÍVEL

QUE ME UNE A TI.

ÉS A PARTE INVISÍVEL

QUE COMPLETA-ME

ENCONTRANDO-A,

ENCONTRAREI A MIM TAMBÉM.

TOCANDO-A,

SEREI TOCADO.

RAPUNZEL!

ONDE ESTÀS?

SAIO FORA DE MIM

PROCURANDO DENTRO

A OCULTA MELODIA

PARTE DE MIM,

PERDIDA,

FINALMENTE ENCONTRADA.

OUÇO-ME

ENXERGO-ME

DANDO O PRIMEIRO TOQUE

QUE ACORDEA O MEU SER.

O adolescer é uma revolução

Que depõe o poder

Que não é nosso,

Trazendo de volta

O que ficou contido.

A luta que sangra a alma

Mata as falsas imagens

E liberta uma identidade nova,

Porém antiga,

Nossa velha conhecida.

INFÂNCIA DO ARTISTA

“BRINCAR DE SER É A MELHOR FORMA DE SE DESCOBRIR”

 

BRINCANDO DE SER,

SOU TUDO

E NADA SOU,

SOU APENAS CRIANÇA.

AMARRO A RAZÃO

COM A CORDA DA IMAGINAÇÃO.

PULO DE UMA CENA A OUTRA,

SENDO HERÓI

DE ARCO E FLECHA,

E VILÃO

DE CABO EM GUERRA.

FEITO PIPA NO CÉU,

NÃO HÁ CEROL

QUE CORTE A MINHA FANTASIA.

A GANGORRA DE MINHA INOCÊNCIA

COM SEU BALANÇO CALMO

ELEVA-ME FEITO SALTO EM CAMA ELÁSTICA.

LÁ DO ALTO ENXERGO TUDO

ANJOS, FADAS E GNOMOS.

COMO IÔIÔ,

TRANSITO ENTRE CÉU E TERRA.

NO CÉU SOU PIPA QUE VOA ALTO.

NA TERRA SOU PIÃO QUE DORME,

SONHANDO COM TUDO

QUE NÃO SE PODE SER PARA SEMPRE.

COMO NO BIBOQUÊ,

COMETO ERROS QUE NÃO DOEM.

DOU CORDA EM BONECAS,

AVIÕES E CARRINHOS,

MAS A CORDA MAIS GOSTOSA

É A FANTASIA QUE VIVENCIO.

NÃO SOU MARIONETE,

SOU O REI DE TODAS ELAS.

ÀS VEZES GENTE GRANDE

SOLTANDO DE PÁRA-QUEDAS.

NESTE VAI E VEM,

VOU E VOLTO SEM PARAR,

RECRIANDO HABILIDADES,

O MEU TRABALHO É BRINCAR.

A LOUCURA QUE ME HABITA

É CRIANÇA COMO EU

NÃO ASSUSTA E NEM SURTA

COM A REALIDADE LUTA

EMPUNHANDO A FANTASIA

NA ARENA DA IMAGINÇÃO.

BRINCANDO DE SER

SOU TUDO

E NADA SOU

SOU APENAS CRIANÇA

 

A minha fantasia

Permitiu que a minha criança

Brincasse de ser.

Brincando de driblar

A lógica adulta

E adúltera do meu ser

Descobri que podia ser

O inconcebível

E viver o anti-projeto

Daquele que me foi arquitetado.